29 de novembro de 2010

maluvargasédemáaasss....

" Eu li um bocado de livros sobre criação de filhos. Uns me ajudaram, uns atrapalharam e de alguns poucos discordei veementemente. Há livros no mercado para todos os gostos. Desde aqueles para justificar que o mal comportamento de um filho são sinais de que ele é especial, portador de algum sinal divino, como também para incentivar uma má vontade coletiva que vê a nova geração como incompetente e preguiçosa, para a qual apenas a boa e velha “linha dura” é a solução. Exageros vendem bem, como já sabemos. Aprendi com os livros e a filha ajudou a solidificar a sabedoria de que a teoria, na prática, é outra mesmo e difícil para caramba. 
Mas há uma coisa que me incomoda um pouco, algo que acredito que os livros sobre educação de crianças nunca dizem com clareza e que me parece fundamental. A primeira “grande providência” que você tem que tomar se vai ter ou teve um filho, é esta: procure se tornar a melhor pessoa que você pode ser, nesse mundo. Não a mais perfeita, por favor, não é isso. Aliás, se você vai ter um filho seria muito legal começar a abrir mão da busca da perfeição. Não, não é com o seu estresse em conciliar tudo, em ser a super-mãe da capa das revistas femininas, que estou preocupada. É com o estresse da criança, em ter que crescer à sombra de alguém em busca da perfeição. 

Funciona mais ou menos assim: os pais são a fonte de formação do psiquismo infantil e o são naquilo que fazem conscientemente, sabedores de si mesmos e naquilo que são inconscientemente, naquilo de si que nem sequer reconhecem, mas que se traduz na vida, de forma imperceptível, talvez. A criança, no entanto, percebe o imperceptível. Não de forma absolutamente racionalizada, mas através do afeto que na primeira infância parece ter a forma de uma grande esponja absorvente de tudo o que se passa ao redor. Se isso estiver certo – e há dados científicos indicando que está – a melhor coisa que podemos fazer para termos filhos do jeito que nós sonhamos, é ser esse sonho. Filhos calmos? Seja calmo. Gente honesta, correta, coisa que está faltando neste país? Seja honesto, procure fazer o que você acredita que é certo. “Queremos crianças felizes”, dizem todos os pais em coro? Seja feliz, você mesmo. A sua cara de infelicidade na mesa de jantar não está ajudando. E se os filhos lhe fazem infeliz, porque tomam muito do seu tempo e dão despesas grandes, por favor, interrompa a produção imediatamente. E lembre-se que não foi solicitação deles fazerem-se irremediavelmente presentes em sua vida.

É uma máxima comum esta, de ser a mudança que você deseja, oriunda de ensinamentos orientais e reproduzida em muitos manuais de auto-ajuda. Só precisamos lembrar de a transpormos para o campo da infância. Será que há em mim, a despeito do muito ou do pouco que a vida possa ter me oferecido, a criança que eu desejaria que meu filho fosse? "